quarta-feira

Sobre empatia

Pra quem não tá entendendo essa consternação toda a respeito da morte do Eduardo Campos, eu explico: o nome disso é compaixão. E não existe compaixão seletiva. A consternação acontece pela tragédia de hoje, pelo massacre covarde na Faixa de Gaza ou pelo mendigo que morreu de frio, anônimo e sozinho nas escadarias de um banco.

A compaixão deveria ser obrigatória, mas não é. O que vi e li hoje foi uma parcela grande da população sendo idiota e mendigando atenção e popularidade da maneira mais esdrúxula possível: fazendo piada sobre uma perda. Quem morreu hoje não foi um político, não foi o candidato a presidência, foi o pai de 5 filhos. Pai, sabem? Pai, de que a gente sente saudade e, se tivermos sorte, podemos fazer essa saudade sumir com um abraço.

E enquanto 5 crianças perdiam o pai, milhares de pessoas faziam piada disso ou desejavam que outra pessoa tivesse morrido no lugar. Outra pessoa também com família, sentimentos e história, seja ela PT ou PSDB. Uma pessoa com um passado, um acumulado de pequenos traumas, vitórias, sorrisos e medos. Assim como eu ou você ou a Dilma ou o Aécio ou o Eduardo ou o seu pai. Mostrar compaixão pelos mortos da guerra e desdenhar de um político morto é ignóbil, é nefasto e é preconceituoso. Não tem diferença, todos deixaram um coração de luto.

Falta compaixão e também falta empatia nesse mundo desgraçado. Pra quem acha que uma piada não faz diferença, é só pensar “se alguém que eu amo tivesse morrido num acidente de avião e milhares de pessoas ficassem fazendo piada disso, como eu me sentiria?”. É difícil? Infelizmente parece que é. A imensa dificuldade que as pessoas têm em se colocarem no lugar das outras é, na minha opinião, o que faz desse mundo cada dia mais insuportável e dolorido.

Se o que aconteceu hoje tem um lado positivo, foi pra me mostrar quem eu quero e quem eu não quero no meu círculo de relações (ainda bem que a grande maioria também repudiou tudo isso que falei). E serviu também pra desejar, mais do que nunca, que a próxima geração tenha mais empatia e compaixão do que a nossa. Porque, do contrário, não vai sobrar mais nada.